BOAS VINDAS

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sábado, 31 de dezembro de 2011

Fim de ano

Fim de ano


Um ano termina,
outro começa,
sonhos apagados,
amores partidos,
projetos frustrados,
ainda bem que o este ano vai embora,
vai ser trocado por um outro novinho em folha,
e com ele virão,
novos sonhos,
novos amores,
novos projetos.


Um ano termina,
outro começa,
sonhos realizados,
amores encontrados,
projetos concluídos,
é uma pena que este ano vai embora,
vai ser trocado por um outro,
sonhos indefinidos,
amores incertos,
projetos duvidosos.


Enfim,
é sempre assim,
para uns o ano foi bom,
para outros nem tanto.


Mas apesar da indefinição,
apesar da incerteza,
apesar das dúvidas,
o novo ano vai começar.


E que no final deste novo ano,
que você esteja entre aqueles que acharão
que tiveram um bom ano.

(Aloísio Portugal de Vasconcellos)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Detalhes


“Detalhes”



      O velho porteiro do palácio chega em casa, trêmulo. Como faz sempre que tem baile no palácio, sua mulher o espera com café da manhã reforçado. Mas desta vez ele nem olha para a xícara fumegante, o bolo, a manteiga, as geleias. Vai direto à aguardente. Atira-se na sua poltrona perto do fogão e toma  um  longo  gole  da  bebida, pelo gargalo.
      — Helmuth, o que foi?
      — Espera, Helga. Deixe eu me controlar primeiro.
      Toma outro gole de aguardente.
      — Conta, homem! O que houve com você? Aconteceu alguma coisa no baile?
      — Co-começou tudo bem. As pessoas chegando, todo mundo de gala, todos com convite, tudo direitinho. Sempre tem, claro, o filhinho de papai sem convite que quer me levar na conversa, mas já estou acostumado. Comigo não tem conversa. De repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme.  E toda de ouro.  Puxada por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões!
      Elefantes! De dentro da carruagem salta uma dona. Sozinha. Uma beleza. Eu me preparo para barrar a entrada dela porque mulher desacompanhada não entra em baile do palácio. Mas essa dona é tão bonita, tão, sei lá, radiante, que eu não digo nada e deixo ela entrar.
      — Bom, Helmuth. Até aí...
      — Espera. O baile continua. Tudo normal. Às vezes rola um bêbado pela escadaria, mas nada de mais. E então bate a meia-noite. Há um rebuliço na porta do palácio. Olho para trás e vejo uma mulher maltrapilha que desce pela escadaria, correndo. Ela perde um sapato. E o príncipe atrás dela.
      — O príncipe?!
      — Ele mesmo.  E gritando para  mim  segurar  a  esfarrapada. “Segura! Segura!” Me preparo para segurá-la quando ouço  uma espécie de “vum” acompanhado de um clarão. Me viro e...
      — E o quê, meu Deus?
      O porteiro esvazia a garrafa com um último gole.
      — Você não vai acreditar.
      — Conta!
      — A tal carruagem. A de ouro. Tinha se transformado numa abóbora.
      — Numa o quê?!
      — Eu disse que você não ia acreditar.
      — Uma abóbora?
      — E os cavalos em ratos.
      — Helmuth...
      — Não tem mais aguardente?
      — Acho que você já bebeu demais por hoje.
      — Juro que não bebi nada!
      — Esse  trabalho  no  palácio  está acabando com você, Helmuth. Pede para ser transferido para o almoxarifado.


(De: Luís Fernando Veríssimo.
Revista “DOMINGO”, março de 1978)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Os dois horizontes


Os dois horizontes

A M. Ferreira Guimarães
(1863)

Dois horizonte fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O voo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.

(Machado de Assis)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Este inferno de amar


Este inferno de amar



Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?


Eu não sei, não me lembro: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?


Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? – não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

(Almeida Garrett)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Carta anônima

A carta anônima”



            Um belo dia a gente acorda e recebe uma carta, sem o nome do remetente. Abre o envelope, mais curioso pra saber de quem é do que propriamente o que ela diz. Verifica que não tem assinatura. Começa a ler logo nas primeiras linhas e conclui que deve ser uma dessas “cartas anônimas” que a gente tanto ouve falar mas nunca espera receber um dia. No princípio começa a achar graça; depois fica irritado, tem vontade de rasgar; mas não rasga; não é por nada não, mas é só pra saber até onde esse cretino quer chegar uma vez que ele (ou será ela?) tem certeza que a gente vai ler  até o finzinho, não uma, mas duas, três, quatro, diversas vezes. Não é por nada não, que a gente não vai dar bola pra uma carta anônima, mas é só pra ver se a gente descobre  quem mandou, e só lá pela quinta ou sexta vez é que a gente começa a ter certeza; não  bem certeza mas quase, porque se uma pessoa podia saber de tudo aquilo, mas essa  pessoa seria incapaz de se sujeitar a um papel triste desses, isto nunca, só se a pessoa contou pra outra. Mas que sordidez, que covardia, por que não assinou a carta pra gente ir conferir pessoalmente todas aquelas acusações? Pensando bem, tem certas coisas tão secretas que só uma pessoa muito íntima poderia saber; tem outras que são exageradas, mas tem outras que são mentira, tudo mentira, não é possível, ou será que é? Já que a pessoa sabe de tantas coisas, quem sabe ela sabe de muita coisa  que  nem  a gente sabe, afinal de contas dizem que o marido é o último a  saber,  e  daí?  ora,  e  daí que pode ser verdade e se há possibilidade da gente admitir que pode ser verdade, está criada a dúvida. Vai ver que o autor da carta queria isso mesmo, criar a dúvida; portanto o melhor é não dar bola; ridículo, dar bola pra uma carta que nem sequer tem uma assinatura. Carta anônima não quer dizer coisa alguma, não significa nada, quer é causar pânico, quer criar intriga. Mas desta vez não vai conseguir nada, o melhor mesmo é a gente rasgar e jogar na cesta. Mas antes disso não custa nada mostrar a um amigo só pra gente se divertir, pra mostrar que não liga pra essas coisas, que tem mentalidade avançada, que tem segurança de si mesmo, que tem personalidade; isso sempre conforta, encontrar alguém que sirva de apoio à opinião da gente em relação à gente mesmo. Está aí, isso não é uma ideia muito recomendável mas a gente sempre  faz, afinal de contas só no amigo dizer pra gente que aquilo é ridículo, já conforta, já dissipa a dúvida e é isso o que interessa. Mas vai a gente depois tirar a dúvida da cabeça do amigo...



(Leon Eliachar. O homem ao quadrado. Círculo do livro, São Paulo, 1976)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A indisciplina


“A indisciplina”




“Indisciplina é um problema que sempre aterrorizou o mais experiente dos professores...” “... O aluno traz uma série de problemas de casa, e o professor tem de ter uma varinha de condão. O que está difícil não é a escola, é o País”, desabafa um professor de Matemática das redes pública e particular.
O professor foi forçado a pedir um afastamento depois de ter os pneus de seu carro esvaziados por alunos da 7ª série da rede pública.
Para uma psicóloga, a adolescência é um período em que a pessoa está passando por transformações. Muitas vezes, transgredir regras é a forma que o adolescente encontra para ser aceito pelo grupo.
Não são somente os jovens que apresentam problemas de disciplina. “É mais trabalhoso lidar com crianças, porque os pais que trabalham fora não estão tão ativos na formação dos hábitos”, declara o coordenador do Ensino Médio do tradicional Colégio São Bento. “A família tem transferido para o colégio a responsabilidade pela  Educação”, diz um diretor de uma escola particular.
Seja qual for a faixa etária, o mais importante é manter o diálogo com o aluno e os pais.
“A relação entre professor e aluno vem passando por transformações”, diz a psicóloga Verônica Góes. O aluno não quer mais o tradicionalismo. O professor tem que ter papel de educador.
Numa escola municipal, a professora de Artes Cênicas Carmen Moreno encontrou uma forma criativa de amenizar a indisciplina. Coordenando o projeto transformArte    dois anos, ela estimula os estudantes a escrever e encenar peças baseadas em suas próprias experiências. Além de diminuir a incidência de problemas disciplinares na escola, as Oficinas de Teatro vêm fazendo alguns alunos abandonar as drogas...”

(Fonte: suplemento  Educação – jornal O dia.)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Descobrindo e aprendendo


Descobrindo e aprendendo


"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem da vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a ultima vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.
Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!”

(William Shakespeare)

sábado, 24 de dezembro de 2011

A banda

                        “A banda”

Estava à-toa na vida,
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor,

Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.

O homem sério que contava dinheiro parou;
O faroleiro que contava vantagem parou;
A namorada que contava as estrelas parou
Pra ver, ouvir e dar passagem.

A moça triste que vivia calada sorriu;
A rosa triste que vivia fechada se abriu;
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.

Estava à-toa na vida,
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor,
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou.

A moça feia debruçou na janela,
Pensando que a banda tocava pra ela.
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu;
A lua cheia que vivia escondida surgiu.
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.

Mas, para meu desencanto,
O que era doce acabou,
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou.

E cada qual no seu canto,
Em cada canto uma dor,
Depois da banda passou
Cantando coisas de amor.

(Chico Buarque de Holanda)