BOAS VINDAS

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terça-feira, 31 de julho de 2012

Sentir-se amado


Sentir-se amado


O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

Martha Medeiros

domingo, 29 de julho de 2012

Estar enamorado

Estar enamorado


Estar enamorado,
Amigos, é encontrar o nome certo da vida.
É encontrar por fim a palavra
Para fazer frente à morte.
É recuperar a chave oculta
Que abre o cárcere em que a alma está cativa.
É levantar-se da terra
com uma força que chama de cima.
É contemplar do cume
A razão das feridas.
É notar nuns olhos
Um verdadeiro olhar que nos olha.
É escutar numa boca a própria voz
profundamente repetida.
É surpreender numas mãos
Esse calor da perfeita companhia.
É suspeitar, definitivamente
Que a solidão da nossa sombra está vencida.
Estar enamorado, amigos, é ouvir no deserto
a cristalina voz de um rio que nos chama.
É governar a luz do fogo
E ao mesmo tempo ser escravo da chama.
É entender o diálogo pensativo
Do coração e da distância.
Estar namorado, amigos,
É assenhorar-se das noites e dos dias.
É contemplar um comboio que corre pela montanha
Com as luzes acesas.
É compreender perfeitamente que não há fronteiras
Entre o sonho e a vigília.
Estar enamorado, amigos, é sofrer
Espaço e tempo com doçura.
É não saber se são nossas, ou não,
As longínquas amarguras.
É regressar à fonte das águas turvas
Da corrente da angústia.
É partilhar a luz do mundo
E ao mesmo tempo partilhar a sua noite escura.
É espantar-se e alegrar-se
Por a lua ser ainda lua.
É comprovar no corpo e na alma
Que a tarefa de ser homem é menos dura.
Estar enamorado é começar a dizer sempre,
E daí em diante não voltar a dizer nunca.
E é, além disso, meus amigos,
Ter a certeza de ter as mãos puras.


Francisco Luis Bernárdez

sexta-feira, 27 de julho de 2012

É falando que os mentirosos se entregam

É falando que os mentirosos se entregam



Esqueça a ideia de que é fácil pegar um mentiroso pela leitura corporal. Desviar os olhos, corar, coçar a cabeça, suar frio, nada disso é necessariamente sinal de que uma pessoa não esteja dizendo a verdade, como revelam os mais recentes estudos sobre o assunto. Artigo publicado na edição deste mês da revista “Mente & Cérebro”, que chega às bancas no próximo dia 30, mostra, no entanto, que é falando que o mentiroso se entrega. Pode não ser aquela bandeira do nariz do Pinóquio – o mais famoso mentiroso da ficção –, mas já é alguma coisa.

“Sinais acústicos são mais eficazes que informações visuais. As pessoas costumam diferenciar de forma mais nítida as mentiras quando ouvem a declaração duvidosa com atenção, em vez de observar o outro”, sustenta o artigo, assinado pelo psicólogo social Marc-Andre Reinhard, pesquisador da Universidade de Mannheim, na Alemanha.

Um grupo de pesquisadores coordenado pela psicóloga Bella M. de Paulo, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, nos EUA, comprovou que os sinais corporais tradicionalmente associados à mentira raramente são verdadeiros. Uma revisão de mais de 200 estudos sobre o tema, feito por Bella e Charles F. Bond, da Universidade Cristã do Texas, comprovou que o índice de acertos (sobre se uma pessoa está ou não mentindo) por meio da análise dos sinais corporais é similar ao de um mero chute, cerca de 50%.
           
“Na verdade, para a maioria das pessoas é realmente muito difícil discernir se uma declaração é verdadeira ou falsa”, constata Reinhard.

            Mas nem tudo está perdido. Cientistas comprovaram que existem, sim, formas de desmascarar um mentiroso com alguma margem de segurança. Tomando por base os estudos levantados por Bond e Bella, pesquisadores da mesma equipe chegaram à conclusão de que sinais acústicos são mais eficazes que os visuais para detectar uma mentira. Ou seja, em vez de observar o falante, é mais eficaz ouvi-lo.

            A chamada técnica do interrogatório, na qual a pessoa é instada a repetir a mesma história várias vezes, é um exemplo clássico, não por acaso empregada por policiais em busca da verdade. Se a história é inventada, a chance de cair em contradição é muito grande.

            Os estudos de Bella e Bond revelaram ainda que, ao ser pego de surpresa num questionamento, o mentiroso se entrega mais facilmente, porque não teve tempo de elaborar uma explicação crível para a mentira. Cobrar explicações imediatas pode ser uma boa forma de detectar um mentiroso, ensina Reinhard.

            Se a pessoa parece nervosa e fala em tom mais alto do que o de costume, as chances de ela estar mentindo são ainda maiores.

            “Especialistas afirmam que os mentirosos contumazes são, em geral, pouco plausíveis e lógicos”, escreve o especialista. “Além disso, raramente admitem que tenham de corrigir sua descrição ou que não consigam se lembrar de algo. Para ‘encobrir os brancos da memória’, eles simplesmente inventam informações.”

O GLOBO, domingo, 25 de outubro de 2009. (Adaptado)


quarta-feira, 25 de julho de 2012

O laço de fita

O laço de fita



Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!

Meu Deusl As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepital
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.


Castro Alves


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Você sabe qual é o tamanho da Internet?

Você sabe qual é o tamanho da Internet?



Por Ultra Downloads em 22.07.2012 09h30


A internet realmente tem de tudo: redes sociais, páginas de conteúdo, jornais on-line, pirataria... e a lista vai longe. Diariamente navegamos através de inúmeras páginas, baixamos nossos arquivos, conversamos com nossos amigos e familiares, mas qual será a quantidade de dados que movimentamos anualmente?
Segundo a Cisco em seu relatório anual VNI (Visual Networking Index), nós movimentamos "apenas" 30,7 exabytes de dados. Isso mesmo: exabytes, 30,7 vezes de nada mais nada menos do que 1.099.511.627.776 megabytes, grande parte desse número composto de tráfego de vídeo, mídia que só tende a aumentar no futuro.
De acordo com o mesmo relatório, em 2016, 71% do tráfego total de toda a internet será composto por vídeos e conteúdos multimídia, previsão que é embasada no aumento da demanda por conteúdos via streaming, como é utililizado pelo Netflix e Youtube, quando estaremos movimentando 1,3 zettabytes, ou seja, 1,3 vezes 1.125.899.906.842.624 megabytes.
Embora também esteja previsto o aumento do uso de redes 4G, o relatório não acredita que essa modalidade de rede, que já está disponível no Novo iPad, será tão popular como previsto por outras instituições, respondendo por apenas 36% de todo o tráfego móvel durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016.




sábado, 21 de julho de 2012

Fila nos bancos


Fila nos bancos

Crônica

O cliente engravatado sorriu e entregou à simpática caixa do banco um cartão, escrito à máquina: "Vá enchendo a maleta. Comporte-se com naturalidade. Estou segurando uma arma. Obrigado".
Não frequento agências bancárias, serviço assumido por minha mulher. Perder nas filas tempo que emprego escrevendo resultaria em prejuízo financeiro. No geral a consorte volta exausta e indignada com alguma coisa. A espera, que às vezes começa a quilômetros do guichê, sempre a expõe a alguma convivência desagradável. A impaciência, o lento passo a passo suscitam intimidades. A maioria força o diálogo oferecendo balas, caramelos e biscoitos. "Experimente, são deliciosos." Por educação ela aceitou uma dessas delícias: sofreu na fila mesmo uma cólica violenta, não suporta nada que tenha coco. Uma vovó levava no colo uma criança que amou minha mulher à primeira vista e quis mudar de peito. "Segure ela um pouquinho, gostou da senhora." Embora não houvesse reciprocidade, minha cara-metade foi gentil. Aconteceu exatamente o que vocês estão adivinhando. Ou sentindo o odor.
Mas eu contava a história do ladrão de banco.
A caixa nem olhou para os lados para que o assaltante não pensasse que pedia socorro. Diante dela, o falso cliente mantinha o mesmo sorriso imóvel. A maleta preta já estava aberta sobre o guichê. Hesitou. Então ele parou de sorrir e mexeu o braço armado. Ela depositou o primeiro maço de notas de dez na maleta.
Em época de eleições não é seguro revelar o nome de seu candidato nas filas, diz-me minha mulher. Já vi gente se sair mal por isso. Brigar é uma forma de preencher o tempo. Ela se queixa em especial dos portadores de mau hálito, justamente os chegados às confidências cara a cara. Companheiro de fila para alguns é como padre em confessionário. Mas há coisas piores. Uma tarde minha mulher voltou da agência possessa. Um cavalheiro atrás dela, fumando um charuto, perguntou-lhe: "Não está sentindo um cheiro de queimado"? Distraidamente ele fizera um furo em seu vestido. Sabem quanto me custou a distração?
Além das confissões constrangedoras, também há aquelas correntistas que pedem conselhos - não sobre aplicações. Depois da narração de uma história trágica, perguntam ansiosamente como se a uma velha amiga: "Em meu lugar o que a senhora faria? Devo fazer isto ou aquilo? Devo permitir que minha filha saia com ele?". Outro dia minha mulher chegou em casa trêmula. Uma mãe desesperada, da qual nem lembrava, acercara-se dela, ameaçadoramente, no banco: "Fiz o que aconselhou e sabe qual foi o resultado? Minha filhinha há três meses desapareceu com o cafajeste..."
Mas eu contava a história do ladrão de banco.
A caixa foi colocando os maços de dinheiro dentro da maleta preta. Lentamente, o que irritava o assaltante. Atrás dele a fila crescia. E a fila ao lado também. O assalto praticado por um homem só porém prosseguia, a cada segundo mais tenso em meio ao movimento da agência, protegida por guardas fardados.
O mais chato são certos encontros garantiu minha mulher. ­ Gente que não vemos há décadas e das quais nem lembramos mais.
Como a saudade atua nos músculos! Ela mostrou-me o vestido amassado. Uma vizinha de infância, pesando uns 80 quilos, quase a matara comprimindo-a entre os braços. Isso enquanto lambuzava-lhe o rosto com beijos prolongados. Até seus cabelos ficaram em estado lamentável. Despregou-se um botão. Nada mais inconveniente que topar com antigos conhecidos em hora errada!
Mas eu contava a história do ladrão de banco.
Subitamente um cavalheiro aproximou-se do assaltante com um palmo de sorriso. Colocou-se entre ele e a moça.
Batista, você! Há quanto tempo! Ainda esta semana conversei com seu tio no supermercado! Me dê um abraço, amigão! Mas, o que é isso? Vai sair por aí com esse baú cheio de dinheiro? Não tem medo de ladrões, não?
Batista olhou para o chão mas não viu buraco algum para esconder-se.
A caixa, sorrindo, ao amigo dele:
Seu Batista não vai sair com esse dinheiro, não; ele veio depositar...


REY, Marcos

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Inteligência


Inteligência


MAS AFINAL, O QUE É INTELIGÊNCIA? (ISAAC ASIMOV)


 
Quando eu estava no exército, fiz um teste de aptidão, solicitado a todos os soldados, e consegui 160 pontos.
A média era 100.
Ninguém na base tinha visto uma nota dessas e durante duas horas eu fui o assunto principal.
(Não significou nada – no dia seguinte eu ainda era um soldado raso da KP – Kitchen Police)
Durante toda minha vida consegui notas como essa, o que sempre me deu uma ideia de que eu era realmente muito inteligente. E eu imaginava que as outras pessoas também achavam isso.
Porém, na verdade, será que essas notas não significam apenas que eu sou muito bom para responder um tipo específico de perguntas acadêmicas, consideradas pertinentes pelas pessoas que formularam esses testes de inteligência, e que provavelmente têm uma habilidade intelectual parecida com a minha?
Por exemplo, eu conhecia um mecânico que jamais conseguiria passar em um teste desses, acho que não chegaria a fazer 80 pontos. Portanto, sempre me considerei muito mais inteligente que ele.
Mas, quando acontecia alguma coisa com o meu carro e eu precisava de alguém para dar um jeito rápido, era ele que eu procurava. Observava como ele investigava a situação enquanto fazia seus pronunciamentos sábios e profundos, como se fossem oráculos divinos.
No fim, ele sempre consertava meu carro.
Então imagine se esses testes de inteligência fossem preparados pelo meu mecânico.
Ou por um carpinteiro, ou um fazendeiro, ou qualquer outro que não fosse um acadêmico.
Em qualquer desses testes eu comprovaria minha total ignorância e estupidez. Na verdade, seria mesmo considerado um ignorante, um estúpido.
Em um mundo onde eu não pudesse me valer do meu treinamento acadêmico ou do meu talento com as palavras e tivesse que fazer algum trabalho com as minhas mãos ou desembaraçar alguma coisa complicada eu me daria muito mal.
A minha inteligência, portanto, não é algo absoluto mas sim algo imposto como tal, por uma pequena parcela da sociedade em que vivo.
Vamos considerar o meu mecânico, mais uma vez.
Ele adorava contar piadas.
Certa vez ele levantou sua cabeça por cima do capô do meu carro e me perguntou:
─ Doutor, um surdo-mudo entrou numa loja de construção para comprar uns pregos. Ele colocou dois dedos no balcão como se estivesse segurando um prego invisível e com a outra mão, imitou umas marteladas. O balconista trouxe então um martelo. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro negativamente e apontou para os dedos no balcão. Dessa vez o balconista trouxe vários pregos, ele escolheu o tamanho que queria e foi embora. O cliente seguinte era um cego. Ele queria comprar uma tesoura. Como o senhor acha que ele fez?
Eu levantei minha mão e “cortei o ar” com dois dedos, como uma tesoura.
─ Mas você é muito burro mesmo! Ele simplesmente abriu a boca e usou a voz para pedir.
Enquanto meu mecânico gargalhava, ele ainda falou:
─ Tô fazendo essa pegadinha com todos os clientes hoje.
─ E muitos caíram? ─ perguntei esperançoso.
─ Alguns. Mas com você eu tinha certeza absoluta que ia funcionar.
─ Ah é? Por quê?
─ Porque você tem muito estudo doutor, sabia que não seria muito esperto.
E algo dentro de mim dizia que ele tinha alguma razão nisso tudo.
 
 

http://www.updateordie.com/2012/05/15/
mas-afinal-o-que-e-inteligencia-isaac-asimov/