BOAS VINDAS

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sábado, 29 de junho de 2013

Para os deuses as coisas são mais coisas



Para os deuses as coisas são mais coisas




Não mais longe eles veem, mas mais claro 
Na certa Natureza 
E a contornada vida... 
Não no vago que mal veem 
Orla misteriosamente os seres, 
Mas nos detalhes claros 
Estão seus olhos. 
A Natureza é só uma superfície. 
Na sua superfície ela é profunda 
E tudo contém muito 
Se os olhos bem olharem. 
Aprende, pois, tu, das cristãs angústias, 
Ó traidor à multíplice presença 
Dos deuses, a não teres 
Véus nos olhos nem na alma. 



(Ricardo Reis, in "Odes" 
Heterônimo de Fernando Pessoa
)


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Poética I e Poética II



Poética I   e   Poética II

Poética I

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

Poética II

Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus!

Vinícius de Moraes


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Games: bons para a terceira idade



Games: bons para a terceira idade




Jogar games de computador pode fazer bem à saúde dos idosos. Foi o que concluiu uma pesquisa do laboratório Gains Through Gaming (Ganhos através de jogos, numa tradução livre), na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Os cientistas do laboratório reuniram um grupo de 39 pessoas entre 60 e 77 anos e testaram funções cognitivas de todos os integrantes, como percepção espacial, memória e capacidade de concentração. Uma parte dos idosos, então, levou para casa o RPG on-line “World of Warcraft”, um dos títulos mais populares do gênero no mundo, produzido pela Blizzard, e com 10,3 milhões de usuários na internet. Eles jogaram o game por aproximadamente 14 horas ao longo de duas semanas (em média, uma hora por dia). Outros idosos, escolhidos pelos pesquisadores para
integrar o grupo de controle do estudo, foram para casa, mas não jogaram nenhum videogame.

Na volta, os resultados foram surpreendentes. Os idosos que mergulharam no mundo das criaturas de “Warcraft” voltaram mais bem dispostos e apresentaram nítida melhora nas funções cognitivas, enquanto o grupo de controle não progrediu, apresentando as mesmas condições.

— Escolhemos o “World of Warcraft” porque ele é desafiante em termos cognitivos, apresentando sempre situações novas em ambientes em que é preciso interagir socialmente — disse no site da universidade Anne McLauglin, professora de psicologia do laboratório e responsável pelo texto final do estudo. — Os resultados que observamos foram melhores nos idosos que haviam apresentado índices baixos nos testes antes do jogo. Depois de praticar o RPG, eles voltaram com melhores índices de concentração e percepção sensorial. No quesito memória, entretanto, o efeito do game foi nulo.

Outro pesquisador que participou da pesquisa, o professor de psicologia Jason Allaire, comentou no site que os idosos que se saíram mal no primeiro teste mostraram os melhores resultados após o jogo.

Os dois estudiosos vêm pesquisando os efeitos dos games na terceira idade desde 2009, quando receberam uma verba de US$ 1,2 milhão da universidade para investigar o tema. Entretanto, entre os jovens, estudos há anos procuram relacionar o vício em games ao déficit de atenção, embora ainda não haja um diagnóstico formal sobre esse tipo de comportamento.




MACHADO, André. Games: bons para a terceira idade. O Globo,
28 fev. 2012. 1o Caderno, Seção Economia, p. 24. Adaptado.


terça-feira, 4 de junho de 2013

Se fôssemos feitos para durar 120 anos



Se fôssemos feitos para durar 120 anos




Vem aí o mundo dos homens e mulheres centenários. [...] A ONU estima que, nos Estados Unidos, uma em cada vinte pessoas que hoje têm 50 anos viverá ainda meio século. No Brasil, existem cerca de 10.000 pessoas com mais de 100 anos. Diante dessa realidade, o sonho de que se possa viver muito além dos 100 anos se afigura cada vez mais possível. Mas não muito mais, pois há raros casos de pessoas que ultrapassam os 120 anos, idade que parece ser nosso limite natural. A questão que se coloca é: poderíamos transpor, com saúde, essa barreira biológica? Cientistas americanos [...] estudaram o assunto e concluíram que não. Para eles, se a evolução tivesse desenhado o corpo humano para durar um século ou mais, teríamos uma aparência muito diferente da atual.

Os cientistas fizeram o exercício de imaginar como teria de ser o corpo de uma pessoa centenária e totalmente saudável, construído para a longevidade. [...] Nós seríamos criaturas mais baixas, mais cabeçudas, mais orelhudas, encurvadas, de coxas e quadris mais largos. Tudo isso para evitar o desgaste natural causado pelo uso prolongado do corpo. Sem essas e outras mudanças, os idosos continuariam sofrendo com ossos frágeis, discos da coluna gastos, ligeiramente destruídos, varizes, cataratas, perda de audição e hérnias. [...]

Alguns cientistas defendem que a ciência deve colocar todos os instrumentos possíveis a serviço do objetivo de estender a vida e retardar o envelhecimento, mesmo que o ser humano não tenha sido planejado para isso. A medicina no século XX identificou e eliminou as causas das doenças infecciosas, o que, junto com uma série de mudanças no estilo de vida, como trabalhos menos pesados, ajudou a aumentar a média de vida da população. A medicina do século XXI procura a solução para as doenças vasculares, o câncer, as patologias degenerativas e as inflamações crônicas, males que acometem com frequência pessoas idosas. [...]

Não faltam interessados em patrocinar o sonho da eternidade. [...] Permitir que a humanidade viva o máximo de tempo possível com saúde é o objetivo de parte dos cientistas e pesquisadores. A questão é saber qual o limite que se quer para a extensão da vida humana. Uma sociedade em que o número de aposentados é maior que o de pessoas em atividade poderia entrar em colapso. Em muitos países, as pessoas param de trabalhar quando entram na casa dos 60 anos. Se fosse possível superar as limitações estruturais do corpo humano e estender a vida para além dos 120 anos, seria preciso rever todo o sistema social e econômico atual.


                                                                                                        Veja, 3 mar. 2004 (adaptado)