BOAS VINDAS

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O mundo em 2050



O mundo em 2050

Tiago Cordeiro

          Em 2050, o número de pessoas com mais de 65 anos nos atuais países desenvolvidos será igual ao de trabalhadores, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E, para que a Previdência não entre em colapso, a idade média para se aposentar vai subir para a casa dos 85 anos. Mas essa notícia não deveria assustá-lo tanto. Quando essa pessoa se aposentar em 2050, sua saúde será incrivelmente superior à dos velhinhos de hoje.
          Injeções periódicas de células-tronco vão melhorar a manutenção das células do corpo e reduzir o número de doenças a que o organismo desgastado está sujeito. Isso para não falar nos nanorrobôs, que prometem, por exemplo, desobstruir artérias (o que reduziria a incidência de derrames) e atacar micro-organismos patogênicos. Também é muito provável que já em 20 anos sejamos capazes de criar órgãos humanos em laboratório e aquele rim bagunçado poderá ser facilmente substituído.
          Embora a natalidade também vá diminuir muito, não será o suficiente para evitar que o mundo alcance 9 bilhões de habitantes - a enorme maioria deles nos atuais países em desenvolvimento. A Índia chegará a 1,6 bilhão a maior população do mundo e a Nigéria terá ultrapassado o Brasil já em 2030, enquanto a Itália e a Alemanha terão menos e menos gente. Só que a população não vai simplesmente crescer e envelhecer: ela vai também ser mais urbana.
          Com 70% da humanidade nas cidades, teremos megaconurbações, como os eixos Pequim-Seul-Pyongyang-Tóquio, com mais de 200 milhões de pessoas, e os 1.400 quilômetros que unem Délhi a Mumbai. Os mapas de metrô parecerão pratos de macarrão de tantas linhas, e até os EUA, hoje tão dependentes do carro, terão adotado trens-bala. Isso não matará o automóvel, mas metade da frota mundial será elétrica ou a hidrogênio.
          Para sustentar essa massa que insiste em não morrer e que vive cada vez mais longe do campo, será necessário muita água, energia e comida. A água será bem mais cara, e seu uso, sacralizado: a descarga será considerada um absurdo do passado conforme privadas secas virarem regra. Além de os dejetos humanos serem reutilizados para produzir energia e fertilizantes em vez de poluir, novas tecnologias de dessalinização transformarão o oceano em fonte de água potável a um preço mais razoável.
          O mundo consumirá o dobro de energia que hoje, mas ela será muito mais limpa. A previsão mais otimista da Agência Internacional de Energia é a de que 46% dela venham de combustíveis fósseis, e o consumo de petróleo caia 27% em relação aos níveis de 2007. Isso porque muitas fontes alternativas vão ficar comercialmente viáveis. Dá para ter uma ideia do que vem por aí com o Projeto Desertec, que deve gerar 100 GW em usinas termelétricas solares no deserto do Saara em 2050. Eles serão transmitidos para os países da União Europeia por corrente direta de alta voltagem, que perde apenas 3% da energia a cada 1.000 quilômetros.
          Para produzir grãos suficientes para alimentar tanta gente sem avançar nas áreas de floresta, a produtividade por hectare também crescerá enormemente, e nisso o Brasil promete assumir a ponta tecnológica: técnicas desenvolvidas pela Embrapa no cerrado brasileiro serão exportadas para as savanas africanas, que não apenas alimentarão sua população, mas também exportarão para a Ásia.
          Mas, para verduras e legumes, o bacana vai ser produzi-los em hortas caseiras. Já os restaurantes-laboratórios vão criar não apenas pratos mas também seus próprios vegetais geneticamente modificados (que tal um híbrido de alface com brócolis?). O vegetarianismo continuará por motivos de gosto ou religião, mas a criação da carne in vitro com células embrionárias de boi, frango, porco e de animais mais exóticos encontrará um mercado promissor entre os que se chocam com o sofrimento de animais. Parece exagero? Não é: desde 2007 uma aliança internacional de cientistas pesquisa a produção de carne in vitro em escala industrial.
          Filmes, livros e música irão para as mesmas telas onde trabalharemos esqueça a diferenciação entre computador, TV, telefone... Para viajar, vai ser possível escolher um país do outro lado do mundo ou hotéis no espaço, embora ainda caros. Jogos serão transmitidos holograficamente, com a possibilidade de mandar mensagens para os atletas nos intervalos (só para pessoas autorizadas...), e atletas terão carreira mais longa (a medicina vai consertar joelhos com muito mais facilidade), roupas perfeitamente adaptadas ao organismo e arbitragem recorrendo a equipamentos eletrônicos (isso quando o juiz não for robô). Enfim, temos pela frente um admirável mundo novo a caminho.



Fonte: http://super.abril.com.br/tecnologia/o-mundo-em-2050

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Essa tal felicidade


Todos queremos ser felizes. Mesmo sem saber exatamente o que é essa felicidade, onde ela mora ou como se encontra, traçamos planos, fazemos escolhas, listamos desejos e alimentamos esperanças pela expectativa de alcançá-la. Em seu nome, comemos chocolate, estudamos para a prova, damos festas, casamos ou separamos, compramos carro, dançamos valsa, formamos turmas, entramos na dieta, brigamos, perdoamos, fazemos promessas – nós vivemos.
Às vezes, agimos pensando na felicidade como uma recompensa futura pelo esforço. Noutras, a encaramos como o bilhete dourado na caixa de bombons. Não raro, pensamos que ela é um direito. Ou um dever a ser cumprido – e, assim como em outras obrigações cotidianas, como fazer o jantar, se a gente falha em executar a meta, tendemos a procurar soluções prontas, como lasanha congelada ou antidepressivos.
Por isso é tão difícil definir (e achar) a tal felicidade. Nós a confundimos com o afeto (se encontrarmos o amor, ela virá), com a sorte (com esperança, ela vai chegar), com o alívio (se resolvermos os problemas, como o excesso de peso, então a teremos). Nós a confundimos com a conquista: se realizarmos tudo o que queremos e se espera de nós... seremos felizes, não?
Não. São pensamentos como esses que transformam a felicidade na cenoura eternamente pendurada à nossa frente – próxima, mas inalcançável. Estabelecer tantas condições para ser feliz faz a gente superestimar o poder que coisas nem tão importantes assim têm sobre nosso bem. Enganamo-nos com a promessa de que há uma fórmula a seguir e jogamos a responsabilidade pela satisfação em lugares fora de nós (e além do nosso controle), como ganhar aumento ou ser correspondido na paixão. E ao invés de responder aos nossos anseios, essas ilusões podem criar um vazio ainda maior.
Podemos não saber explicar o que é felicidade – até porque é uma experiência única para cada pessoa. Mas a ciência, a filosofia e as histórias de quem se assume feliz dão pistas do que ela não é. (...)
Comparando centenas de pesquisas, [o psicólogo americano] Martin Seligman e outros pesquisadores perceberam: a felicidade está naquilo que construímos de mais profundo – nossas experiências sociais. A vida bem vivida, sugere o psicólogo, é aquela que se equilibra sobre três pilares: os relacionamentos que mantemos, o engajamento que colocamos nas coisas e o sentido que damos à nossa existência. É isso, afinal, que as pessoas felizes têm em comum.
(...)
A verdade de cada um

Hoje, Claudia Dias Batista de Souza, 63 anos, não quer levar nada da vida. Mas houve um tempo em que quis o mesmo que todo mundo. “Achava que ser feliz era ter um bom marido, um bom emprego, um bom carro, sucesso”, conta. Claudia cresceu em um bairro nobre de São Paulo, casou aos 14 anos, teve a única filha aos 17, se separou, estudou Direito, virou jornalista. Aos 24 anos, mudou para a Inglaterra. De lá, foi para os Estados Unidos, onde conheceu o segundo marido. E aos 36 anos descobriu que não queria mais nada daquilo. Claudia virou budista. Hoje é conhecida como monja Coen – palavra japonesa que significa “só e completa”.
Foi porque estava em busca de algo que a ajudasse a se conhecer melhor que Claudia procurou o budismo. (...)
E descobriu onde estava sua felicidade. “Eu era bravinha, exigente com os outros e comigo. No budismo, aprendi que o caminho da iluminação é conhecer a si mesmo. Isso me trouxe plenitude”, conta. “Vi que sou um ser integrado ao mundo e, para ficar bem, preciso fazer o bem. A recompensa é incrível”.

WEINGRILL, Nina; DE LUCCA, Roberta; FARIA, Roberta. Sorria. 09 jan. 2010