BOAS VINDAS

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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Negócio de menino


Negócio de menino

Crônica

Rubem Braga

Tem dez anos, é filho de um amigo, e nos encontramos na praia:
─ Papai me disse que o senhor tem muito passarinho...
─ Só tenho três.
─ Tem coleira?
─ Tenho um coleirinha.
─ Virado?
─ Virado.
─ Muito velho?
─ Virado há um ano.
─ Canta?
─ Uma beleza.
─ Manso?
─ Canta no dedo.
─ O senhor vende?
─ Vendo.
─ Quanto?
─ Dez contos.
Pausa. Depois volta:
─ Só tem coleira?
─ Tenho um melro e um curió.
─ É melro mesmo ou é vira?
─ É quase do tamanho de uma graúna.
─ Deixa coçar a cabeça?
─ Claro. Come na mão...
─ E o curió?
─ É muito bom curió.
─ Por quanto o senhor vende?
─ Dez contos.
Pausa.
─ Deixa mais barato...
─ Para você, seis contos.
─ Com a gaiola?
─ Sem a gaiola.
Pausa.
─ E o melro?
─ O melro eu não vendo.
─ Como se chama?
─ Brigitte.
─ Uai, é fêmea?
─ Não. Foi a empregada que botou o nome. Quando ela fala com ele, ele se arrepia todo, fica todo despenteado, então ela diz que é Brigitte.
Pausa.
─ O coleira o senhor também deixa por seis contos?
─ Deixo por oito contos.
─ Com a gaiola?
─ Sem a gaiola.
Longa pausa. Hesitação. A irmãzinha o chama de dentro d'água. E, antes de sair correndo, propõe, sem me encarar:
─ O senhor não me dá um passarinho de presente, não?


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