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sexta-feira, 29 de junho de 2012

A arte de roubar livros


A arte de roubar livros
crônica


"A tentação de roubar livros nos persegue pela vida afora, tanto que ninguém devolve os livros que pede emprestado. Não se trata de um problema financeiro, apesar de os livros não estarem exatamente baratos. É uma coisa emocional: como se o amor pela palavra impressa não pudesse ser conspurcado pela transação comercial.
Um amigo meu, ex-revolucionário como Rubin e Hoffman, tornou-se, como eles, um bem-sucedido executivo no Rio de Janeiro, e resolveu aplicar parte de seus ganhos abrindo uma pequena livraria na Zona Sul, cuja administração ficou a cargo de um gerente. Todos os dias ia lá, misturava-se com os clientes – era um lugar bem frequentado – e ficava observando o movimento. De vez em quando, para testar a velha habilidade, roubava, ele mesmo, um livro. Levava-o para o gerente. – Você me viu roubar este livro?
Confesso que não vi, dizia o gerente, mas o dono da livraria não conseguia acreditar: será que o homem estava querendo apenas agradar o patrão, mesmo com o risco de ser posto para fora como incompetente? Com um suspiro, colocava o livro na prateleira e ia embora. Triste: quando não se pode mais roubar livros, dizia, que graça resta na vida?"


Trecho retirado do livro: Moacyr Scliar
(Coleção Melhores Crônicas, 2004)


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