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sábado, 10 de setembro de 2011

Canção para os fonemas da alegria

Canção para os fonemas da alegria



A Paulo Freire
 
Peço licença para algumas coisas.
primeiramente para desfraldar
este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor
quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar
no alfabeto do sol Pernambuco
a palavra ti-jo-lo, por exemplo.

E poder ver que dentro dela vivem
paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas
são mágicos sinais que vão se abrindo
constelação de girassóis girando
em círculos de amor que de repente
estalam como flor no chão da casa.

Às vezes, nem há casa; é só o chão.
mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer...

Porque unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho
tristeza e pão, cambão e beija-flor.

E acaba por unir a própria vida
no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão
que o mundo é seu também, que o seu trabalho
não é a pena que paga por ser homem,
mas um modo de amar ¾ e de ajudar
o mundo a ser melhor,

Peço licença para avisar que, ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:
ele atravessa os campos espalhando
a boa-nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte e fronte.
contra o bicho de quatrocentos anos,
mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:
canção de amor geral que eu vi nascer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.
                                                                                                                                
(Thiago de Mello – 1969)

(Fonte: Jornal do SINPRO nº 01, ano VIII – fev/04)

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