BOAS VINDAS

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sexta-feira, 15 de março de 2013

Histórias extraterrestres



Histórias extraterrestres




        Quando a mulher, muito impressionada, veio lhe falar sobre o óvni avistado no Mato Grosso do Sul, ele mal pôde conter a satisfação: pressentiu que ali estava a grande desculpa de que precisava para justificar suas escapadas noturnas.
     Não tardou a usá-la. Dias depois conheceu uma loira espetacular, uma grande mulher. Saiu da casa dela às três da manhã, sem qualquer preocupação. Para a mulher, que, naturalmente, o aguardava furiosa, contou a história clássica: estava dirigindo o carro por uma estrada deserta quando, de súbito, avistou luzes ofuscantes e, em meio a um ruído ensurdecedor, um óvni, um disco voador, pousou no campo ao lado da estrada.
     Dali haviam saído três homenzinhos verdes com antenas, dizendo, numa voz metálica, leve-nos a seu chefe. Como não sabia exatamente de quem falavam tanta gente mandando no país , os homenzinhos retiveram-no por mais de cinco horas, perguntando coisas sobre campos petrolíferos, possibilidade de remessa de lucros a outros planetas, CPIs várias. Daí o atraso.
     A mulher não apenas acreditou como até teve pena dele: coitadinho, você deve ter passado um mau pedaço. E ele foi dormir felicitando-se por sua imaginação criativa.
     Na semana seguinte, de novo encontrou a loira e de novo voltou tarde, dessa vez às quatro. De novo contou a história, acrescentando que era o mesmo disco voador e que os homenzinhos haviam afirmado que daí em diante voltariam periodicamente para completar a coleta de dados.
     Não conte a ninguém sobre isso concluiu ele. Caso contrário, minha vida correrá perigo.
     A mulher, cada vez mais impressionada, prometeu que nada diria, nem mesmo às melhores amigas.
     Passados uns dias, sentiu saudades da loira e resolveu visitá-la na casa, que ficava num bairro distante. Entrou no carro e foi até lá. Já estava chegando quando avistou luzes ofuscantes. Em meio a um ruído ensurdecedor e a uma espessa fumaça, avistou um óvni que, do pátio da casa, elevava-se no ar. Na janela do disco voador, mirando-o sorridente, estava a bela loira, abraçada a três homenzinhos verdes com antenas. Um segundo depois a nave desapareceu, perdendo-se no espaço infinito.



(SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2001.)


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