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sexta-feira, 1 de março de 2013

A moça e a calça



A moça e a calça



Foi no Cinema Pax, em Ipanema. O filme em exibição é ruim: "O menino mágico." Se mágico adulto geralmente é chato, imaginem menino. Mas isto não vem ao caso. O que vem ao caso é a mocinha muito de redondinha, condição que seu traje apertadinho deixava sobejamente clara. A mocinha chegou, comprou a entrada, apanhou, foi até a porra, mas aí o porteiro olhou para ela e disse que ela não podia entrar:
─ Não posso por quê?
─ A senhora está de "Saint-Tropez".
─ E daí?
Daí o porteiro olhou para exuberâncias físicas dela, sorriu e foi um bocado sincero:
─ Por mim a senhora entrava. (Provavelmente completou baixinho: ...e entrava bem.) Mas o gerente tinha dado ordem de que não podia com aquela bossa-nova e, sabe como é... ele tinha que obedecer, de maneira que sentia muito, mas com aquela calça não.
─ O senhor não vai querer que eu tire a calça.
Nós, que estávamos perto, quase respondemos por ele:
─ Como não, dona! ─ Mas ela não queria resposta. Queria era discutir a legitimidade de suas apertadas calças "Saint-Tropez". Disse então que suas calças eram tão compridas como outras quaisquer. O cinema Pax é dos padres e talvez por causa desse detalhe é que não pode "Saint-Tropez". A calça, de fato, era comprida como as outras, mas embaixo. Em cima era curta demais. O umbigo ficava ali, isolado, parecendo até o representante de Cuba em conferências panamericanas.
─ Quer dizer que com minhas calças eu não entro? ─ Quis ela sabe ainda uma vez.
E vendo o porteiro balançar a cabeça em sinal negativo, tornou a perguntar:
─E de saia?
De saia podia. Ela então abriu a bolsa, tirou uma saia que estava dentro, toda embrulhadinha (devia ser pra presente). Desembrulhou e vestiu ali mesmo, por cima do pomo de discórdia. No caso, a calça "Saint-Tropez". Depois, calmamente, afrouxou a calça e deixou que a dita escorresse saia abaixo. Apanhou, guardou na bolsa e entrou com uma altivez que só vendo.
Enquanto rasgava o bilhete, o porteiro comentou:
─ Faço votos que ela tenha outra por baixo.
Outra calça, naturalmente.

Stanislaw Ponte Preta


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