BOAS VINDAS

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Casa de pobre

Casa de pobre



Alguns adágios populares são obscuros. Eu nunca entendi o significado de “O que é do homem o bicho não come”, por exemplo. O que não me impediu de concordar solenemente sempre que ouvi a frase. Afinal, se ela foi repetida e comprovada através do tempo a ponto de se transformar num adágio é porque alguma verdade deve ter.
Outros adágios são de uma sabedoria certeira, tão perfeitos que – como algumas anedotas – tentam a gente a investigar sua origem, para homenagear seu criador. Que grande observador do mundo teria bolado a frase “Pra baixo todo santo ajuda”? É o comentário mais devastadoramente irônico jamais feito sobre a circunstância humana, a fé religiosa e a intervenção da metafísica em nossas vidas, sem falar no abjeto oportunismo dos santos que só nos acodem nas boas. A vida está cheia de gente assim, de solidários no declive.
E alguns adágios são cruéis na sua precisão sintética.(...) “Em casa de pobre todos gritam e ninguém tem razão”– devia ser alterado para ficar ainda mais exato e terrível. Em casa de pobre todos gritam e todos têm razão.(...) O pior é que, com razão ou sem razão, a gritaria entre os pobres não faz a menor diferença na sua situação. Só assusta a vizinhança.
Enfim, resta a certeza de que o que é nosso não é para consumo animal, o que já é um consolo. Seja lá o que for.


(De VERÍSSIMO. In: Coluna do Veríssimo. Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1999)



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