BOAS VINDAS

Seja bem-vindo/a ao meu blog. Leia, pesquise, copie, aprenda, divirta-se; fique à vontade e tire proveito de sua estada aqui.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A velha contrabandista


“A velha contrabandista”
(crônica)



        Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta.  O pessoal da alfândega — tudo malandro velho — começou a desconfiar da velhinha.
        Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega mandou ela parar.  A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
        — Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco? 
        — A velhinha sorriu com os poucos dentes que  lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu: 
        — É areia!
        Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha  areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
        Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o  fiscal mandou  parar  outra vez. Perguntou o que ela levava no saco e ela respondeu que era  areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas  as  vezes,  o que ela levava no saco era areia.
        Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
        — Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com quarenta anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro.  Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
        —  Mas no saco só  tem  areia! — insistiu a velhinha.  E já ia  tocar  a  lambreta, quando o fiscal propôs:
        — Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar.  Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém mas a  senhora  vai  me dizer:  qual  é  o  contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
        — O senhor promete que não “espáia” — quis saber a velhinha.       
        — Juro — respondeu o fiscal.
        — É lambreta.
(Stanislau Ponte Preta)

Um comentário: