BOAS VINDAS

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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A mensagem que você não leu



A mensagem que você não leu*
(crônica sentimental)



Ainda hoje continua o inexplicável, o indefinido. Não sei quem eu conheci, não sei quem foi você... pra falar a verdade nem sei quem você é... um mistério talvez; um enigma das arábias; um labirinto de Creta...?!
          Estou debruçado sobre o teclado do meu computador, quero desabafar, externar toda a angústia que mora dentro de mim; meu peito quer explodir de tanta angústia, quer se libertar para sempre, mas está preso por vontade ― ou fraqueza?! ―; quer alçar novos voos,  mas perdeu as asas que tinha. E tudo continua anuviado, embaçado; chego mesmo a pensar que tudo foi um sonho ― ou um pesadelo? ―, uma noite de boêmia, pela qual tem-se que pagar alto tributo no dia seguinte. Estou repleto de dúvidas, impregnado de saudade, pleno de tédio. Não há a quem reclamar as minhas dores, os meus tormentos.
            Só sei que houve você, capaz de me mostrar o caminho certo, capaz de provocar mudanças em mim ― mesmo que indiretamente, sem querer ―, ditar conselhos dentre todas as desgraças, como também supor novas fórmulas e revirar todas as incompetências e impossibilidades. Mas houve também um preço, altíssimo, incalculável, quase inatingível, que eu estou pagando sozinho. O preço foi o de querer você, toda por inteiro, só para mim; você, quase um sonho proibido para um ente desprovido de tudo como eu, que só tinha a crença de que no amor tudo é possível e tudo pode acontecer ― ledo engano ― ... No entanto, não houve outro caminho.
          Tudo parecia correr certinho, as águas descendo pela grota em direção ao rio caudaloso. Mas houve também os desatinos, as incoerências, e os erros de cálculo, e você não soube o resultado, e não saberá, até que este mistério se defina. Afinal, a derrota não é notícia que se dê e se aceite com facilidade; e nem sabemos ainda quem perdeu e quem ganhou: o tempo dirá ― talvez.  E pensar que houve os riscos e o sacrifício de imposições e aberrações de ideias, minhas naturalmente, únicas e verdadeiras, pelo menos eu pensava assim.
            Houve também a renúncia a muitos ideais, a transgressão de muitas aspirações; a mutilação dos sonhos mais cândidos, das ilusões, das esperanças e principalmente da fé e da dignidade... Eu me abandonei por inteiro.
           É sempre assim quando se ama de verdade: alguém paga o pato que não comeu. São as peças pregadas pela vida: uns subindo pra depois descer; outros descendo pra depois subir. E nesse círculo vicioso caem-se-nos os dentes, acabam-se os ideais, embotam-se os sentidos mais vitais.
          Entrei no mato sem um cão de caça, percorri todo o beco: não encontrei uma saída ― não havia. O mundo onde me encontro agora passou a ser mau, perigoso, denso e frio. A solidão de novo se aproximou de mim e já arma o bote:  estou indefeso. E esta vulnerabilidade me causa arrepio, mortifica-me.
           Mas isso não é tudo. Houve ainda a consciência da minha condição em desvantagem, sem falar, também, no mau sentido que tudo causou, na chantagem moral consciente e inconsciente. Não se pode negar, ainda, que houve o seu sadismo natural, feminino ― nunca me apoiou e ainda foi indiferente aos meus sentimentos mais profundos ―, o seu orgulho, o seu egoísmo ingente...
            Se acha que estou sendo dramático e exagerado, não repare nisso, minha cara, os amantes são assim mesmo ― imbecis.
          Enfim, as peripécias todas foram propícias para um grande tombo. E eis que de repente me encontro ― ainda ― no chão, e, comigo, toda a minha vida e toda a minha sorte. Os desígnios todos sucumbiram comigo, naufragamos num deserto de incertezas. Foi um suicídio sem morte. E eis-me no meu mundo, só, como um semivivo, órfão de todas as vontades, desejos. Refém do abandono e da rejeição.
           Quando tudo aquilo que nunca existiu acabou, aconteceu dentro de mim o assassínio de todas as gentes, a morte de todos os conflitos, de todos os conceitos. Não pôde ser evitada a morte de todos os amigos, de todos os parentes, de todas as pessoas que consegui amar.
          Lamentei a efemeridade dos momentos felizes que passei ao seu lado, mesmo como simples “amigo” (afinal, nunca fui amado, você mesma confessou isso a mim), a assiduidade da solidão e a delinquência do meu pranto.
            Muito tenho feito para fugir a todo o passado próximo, já demandei uma pasárgada fugaz; já encetei nova caminhada, trilhando ínvios caminhos e íngremes estradas que levaram a lugar nenhum. Tudo em vão. Foram árduos os caminhos que trilhei nesses últimos dias. Não foram mais fáceis as dificuldades que enfrentei para não me deixar amordaçar.  Mas o meu mundo agora está pior, bem pior; mas como “não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe”... Estou esperando que a minha estrela brilhe novamente no fim do túnel, como noutras vezes passadas.
            Você foi tudo para mim: o meu sol, minha manhã dourada, minha esperança de vida. Você chegou e foi logo provocando mudanças em mim; hoje sou outro, graças a você. Não sei se mudei pra melhor ou pra pior, só sei que minha vida tomou um rumo bem diferente desde que nossos mundos se distanciaram.  E essa mutação continuará pelos anos afora, tudo porque, um dia, houve você em minha vida.


Pimentel

Belém, 30/04/05

*A alguém que já foi especial para mim.

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