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sexta-feira, 29 de julho de 2011

O pretérito futuro do livro (texto 5)


O pretérito futuro do livro



A tecnologia está ao alcance de todos, mas ela
não substitui a leitura de um bom livro. (Fato)

         Quando Gutenberg transformou o manuscrito europeu num bloco uniforme e infinitamente reproduzível, pôs fim ao reinado da filosofia escolástica oral e estabeleceu a maneira de recuperar o mundo dos autores pagãos.
        À medida que a nova intensidade das palavras, consideradas objetos visuais, começava a substituir a antiga base oral, as palavras se convertiam em valores visuais com novo sentido “objetivo”. O mundo da ressonância e da profundidade em níveis distintos, que caracterizou as estruturas verbais e no qual se baseava a exegese das Sagradas Escrituras e do Livro da Natureza, foi subitamente silenciado pelo grande peso adquirido pelo visual. Novas formas de domínio visual substituíram a antiga ressonância, que tinha afinidades com a magia e a metamorfose.
        Evidentemente, a filosofia escolástica era uma forma de discurso que não convinha à nova era. Estava condenada, não por causa de seu conteúdo ou de seu significado, e sim por que era uma discussão insubstancial e episódica, que se ocupava de qualquer assunto em qualquer momento.
         Na comunicação entre amigos é natural interromper e introduzir observações em qualquer altura da conversação. Neste tipo de intercâmbio oral se propõem simultaneamente numerosas opiniões sobre qualquer tema.
      A especialização se desenvolveu com o advento da imprensa, pois o leitor individual, mediante um esforço solitário, pode deslizar com grande rapidez pelos amplos caminhos da impressão em série, sem necessidade da companhia nem dos comentários de pessoas que aprendem juntas ou que discutem com ele.
       Com o aparecimento do telégrafo e do telefone, do rádio e da televisão como serviços correntes, estabeleceram-se relações totalmente novas entre o objeto e sua representação. Na ciência e no romance, na arte e na política, a participação do público em todos os aspectos do processo social se converteu num fato indiscutível.
       No que concerne ao livro, a maneira e os meios de participação do leitor enquanto coautor e do público enquanto ator correspondem ao que foi a forma simbólica ou descontínua na poesia e na pintura, na música, na imprensa, no romance e no teatro.
       A imprensa tornou “obsoleta” a escrita, mas atualmente se escreve muito mais que antes da imprensa. O desuso não significou extinção, e sim a matriz necessária para a inovação; portanto, a escrita ganhou força em muitas formas novas, entre elas a mecanografia. E assim como a informação fornecida pelo livro impresso foi ultrapassada pela fotografia, pelo cinema e pela televisão, no livro se produziu um processo de hibridização constante com outras formas de imagem visual proporcionadas por inúmeras formas novas de arte. Em certo sentido, é possível falar do livro como parte de uma tecnologia de hardware ou “serviços de material”.
        Meu livro, A galáxia de Gutenberg, trata exaustivamente dessas questões. Por exemplo, a gramática “correta” começa com a palavra escrita. Ninguém cometeu jamais um erro gramatical numa cultura oral.
       Alexander Pope considerava que uma espessa névoa de tinta havia caído sobre toda consciência humana na época de Newton. O que Pope previa parece constituir, olhando retrospectivamente, um progresso considerável em relação ao mundo que, em sua opinião, se encontrava em dissolução. Na época da tecnologia avançada, em que será possível telefonar ao número de um livro com a mesma facilidade com que se telefona a um amigo, estão a nosso alcance formas de experiência literária totalmente novas. Nossa tarefa de homens cultos consiste em apressarmo-nos a enfrentar estas inovações.

(Marshall McLuhan – adaptado por Pimentel)

Janeiro de 1972
 
Vamos ler, meu povo! Ler significa descobrir,
renovar, evoluir, crescer: viver bem consigo e com os outros.
Ler é preciso: viver não é preciso.

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