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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A nova praga



A nova praga



Não é preciso ter assistido nem à primeira aula de Latim – no tempo em que existia em nossas escolas essa disciplina, cuja ausência foi um desastre para o aprendizado da Língua Portuguesa – para saber que o étimo de nosso substantivo areia é o latim "arena". E, se qualquer pessoa sabe disso até por um instinto primário, é curioso, para usar um termo educado, como nossos locutores e comentaristas de futebol, debruçados sobre um gramado verdeverdinho, chamamno de "arena", numa impropriedade gritante.
Nero dava boas gargalhadas, num comportamento que já trazia latente a sua loucura final, quando via os cristãos lutando contra os leões na arena. Nesse caso, se havia rictus de loucura na face do imperador, pelo menos o termo era totalmente apropriado: o chão da luta dramática entre homem e fera era de areia. Está aí para proválo até hoje o Coliseu.
(....) Mas – ora bolas! –, se o chão é de relva verdejante, é rigorosamente impróprio chamar de “arena” nossos campos de futebol, como fazem hoje. O diabo é que erros infelizmente costumam se espalhar como uma peste, e nem será exagero dizer que, neste caso, o equívoco vem sendo tão contagioso como a peste negra que, em números redondos, matou 50 milhões de pessoas na Europa e na Índia no século XIV. E os nossos pobres ouvidos têm sido obrigados a aturar os nossos profissionais que transmitem espetáculos esportivos se referirem à arena daqui, à arena de lá, à arena não sei de onde. Assim, já são dezenas de arenas por esse Brasilzão. O velho linguista e filólogo mineiro Aires da Mata Machado Filho (19091985), a cujo livro mais conhecido peço emprestado o título deste pequeno artigo, deve estar se revirando no túmulo diante da violência de tal impropriedade. O bom Alves era cego, ou quase isso, mas via como ninguém os crimes cometidos contra o idioma.



(Marcos de Castro. www.observatoriodaimprensa.com.br)


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