BOAS VINDAS

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domingo, 9 de dezembro de 2012

Lúbrica



                                                     Lúbrica




Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.


Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!


Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!


Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:


Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.


Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.


As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...


Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
                  Que muitas bibliotecas!


Cesário Verde


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