BOAS VINDAS

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sexta-feira, 23 de novembro de 2012




Força, Veríssimo!


VERGONHA


(Luís Fernando Veríssimo)


Será que a gente somos corrupto? De nascença?  Por natureza? Alguma coisa na água, ou no leite da mãe? Em Paris, nos aconselhavam a não dizer que éramos brésiliens, pegava mal. Lá é quase sinônimo de travesti. Devíamos dizer du Brésil – para não acabar dizendo “brasileiros, mas no bom sentido”. Nos Estados Unidos, o Brasil é o Grande Caloteiro. No cinema americano, é tradicionalmente para o Brasil que vem os bandidos, pelo menos os que conseguem escapar com a grana. Muito do nosso folclore é baseado no autodesprezo: somos a terra do malandro, do indolente, do encostado. Somos, paradoxalmente, a raça do jeito pra tudo e a raça que não tem jeito mesmo.
Existiria, no brasileiro, uma falha estrutural que frustraria todas as tentativas de reformá-lo. Uma maldição mais forte que o remorso, mais forte, até, do que a informatização. Os computadores, feitos para evitar o contágio da esperteza humana, da esperteza da caneta e do papel carbono, sucumbiriam à maldição assim que um dedo brasileiro os tocasse misteriosamente, só pelo convívio. Todas as nossas tentativas de regeneração acabariam na frase terrível, no epíteto fatal: sabe como é brasileiro...
Ou então há uma certa faceirice na nossa autocondenação. Uma certa gabolice. Não somos menos morais do que outros povos mas gostamos de dizer que somos. Tem algo a ver com o nosso tamanho.
Nosso mar de lama não é maior que outros, a extensão da nossa costa é que nos dá delírios de baixeza. Nossa alma amazônica não se satisfaz com pequenas falcatruas, queremos pororocas de sujeira, dilúvios de canalhice. O rombo é de trilhões! O escândalo da Previdência seria apenas mais uma prova de que não tem jeito mesmo. O escândalo da Previdência é antigo, é um escândalo institucionalizado, é o escândalo do descaso histórico do Estado com o cidadão no Brasil, da classe dominante com a classe ludibriada. Todas as sociedades deste lado do mundo são, de um jeito ou de outro, cleptocracias, construídas pelos mais espertos. Nas que deram certo o proveito deste pioneirismo dos canalhas foi distribuído, nas que continuam dando errado só uma minoria aproveita seus próprios crimes, enquanto convence a maioria de que seu caráter é que a derrota. Resolvida a atual crise no sistema- ou, o que é mais provável, não resolvida a crise mas terminado o barulho – continuará o escândalo maior. Vergonhosas não são as listas de benefícios adulteradas, são as listas que estão certas.


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