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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Assim caminha a humanidade


Assim caminha a humanidade




Há muito que penso nisso e muitas pessoas devem ter pensado a mesma coisa. Mas ninguém fala, ninguém diz nada. Por que, não o sei. Trata-se do automóvel. Essa maravilha mecânica, que empolgou todo o nosso expirante século 20, o veículo revolucionário que acabou com os carros de tração animal e expulsou o trem urbano para os longos percursos.
E agora, o automóvel também chegou ao seu fim, transformou-se num veículo obsoleto. Não serve mais. A finalidade a que se destinava, nas áreas urbanas: transporte individual, rápido, seletivo, perdeu o sentido.
Você, hoje, para transpor alguns poucos mil metros, leva o mesmo tempo que gastaria se fosse caminhando a pé. As ruas de todas as cidades do mundo vivem atravancadas por essas tartarugas ninjas, escuras, fechadas, malcheirosas com o seu bafo de petróleo queimado, andando a passo de tartaruga – sim, de tartaruga mesmo – , cada uma ocupando um espaço que vai de dez a doze metros quadrados e transportando na sua grande maioria só uma ou duas pessoas.
Arrogante, nas suas janelas de cristal, na pintura luzidia, nos metais polidos, o automóvel é, acima de tudo, um monstro de egoísmo. (...)
Quem sabe vai se recorrer ao transporte aéreo, grandes helicópteros que seriam como ônibus voadores, pousando em heliportos arranjados nos tetos dos grandes edifícios? Não sei… Porque logo apareceriam helicópteros particulares, cada executivo teria o seu, de luxo, importado.
Então a solução seria acabar mesmo com os próprios grandes ajuntamentos urbanos. Voltar todo mundo a se espalhar pelo campo, só procurando os centros quando a natureza do seu trabalho o exigisse. Até que o campo se deteriorasse também – já que esse é o destino do homem sobre a terra: acabar com tudo de bom e bonito que a natureza para ele criou.


QUEIROZ, Rachel. Assim caminha a humanidade. In: Um
fi o de prosa (coletânea). Org. Equipe Global Editora. São Paulo:
Global, 2004. p. 65 – 70. (Adaptado).

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