BOAS VINDAS

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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Estrela da manhã


  Estrela da manhã


Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem malsexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras

Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra
[e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã


Manuel Bandeira

terça-feira, 21 de agosto de 2012


O gramático




Alto, magro, com os bigodes grisalhos a desabar, como ervas selvagens pela face de um abismo, sobre os cantos da funda boca munida de maus dentes, o professor Arduíno Gonçalves era um desses homens absorvidos completamente pela gramática. Almoçando gramática, jantando gramática, ceando gramática, o mundo não passava, aos seus olhos, de um enorme compêndio gramatical, absurdo que ele justificava repetindo a famosa frase do Evangelho de João:
No princípio era o VERBO!
Encapado pela gramática, e às voltas, de manhã à noite, com os pronomes, com os adjetivos, com as raízes, com o complicado arsenal que transforma em um mistério a simplicíssima arte de escrever, o ilustre educador não consagrava uma hora sequer às coisas do seu lar. Moça e linda, a esposa pedia-lhe, às vezes, sacudindo-lhe a caspa do paletó esverdeado pelo tempo:
Arduíno, põe essa gramatiquice de lado. Presta atenção aos teus filhos, à tua casa, à tua mulher! Isso não te põe para diante!
Curvado sobre a grande mesa carregada de livros, o cabelo sem trato a cair, como falripas de aniagem, sobre as orelhas e a cobrir o colarinho da camisa, o notável professor retirava dos ombros a mão cariciosa da mulher, e pedia-lhe, indicando a estante:
Dá-me dali o Adolfo Coelho.
Ou:
Apanha, aí, nessa prateleira, o Gonçalves Viana.
Desprezada por esse modo, Dona Ninita não suportou mais o seu destino: deixou o marido com suas gramáticas, com os seus dicionários, com os seus volumes ponteados de traça, e começou a gozar a vida passeando, dançando e, sobretudo, palestrando com o seu primo Gaudêncio de Miranda, rapaz que não conhecia o padre Antônio Vieira, o João de Barros, o frei Luís de Sousa, o Camões, o padre Manuel Bernardes, mas que sabia, como ninguém, fazer sorrir as mulheres.
Ele não prefere, a mim, aquela porção de alfarrábios que o rodeiam? Então, que se fique com eles!
E passou a adorar o Gaudêncio, que a encantava com a sua palestra, com o seu bom-humor, com as suas gaiatices, nas quais não figuravam, jamais, nem Garcia de Rezende, nem Gomes Eanes de Azurara, nem Rui de Pina, nem Gil Vicente, nem, mesmo, apesar do seu mundanismo, D. Francisco Manuel de Melo.
Assim viviam, o professor, com seus puristas, e D. Ninita com o seu primo, quando, de regresso, um dia, ao lar, o desventurado gramático surpreendeu a mulher nos braços musculosos, mas sem estilo, de Gaudêncio de Miranda. Ao abrir-se a porta, os dois culpados empalideceram, horrorizados. E foi com o pavor no coração que o rapaz se atirou aos pés do esposo traído, pedindo, súplice, de joelhos:
Me perdoe, professor!
Grave, austero, sereno, duas rugas profundas sulcando a testa ampla, o ilustre educador encarou o patife, trovejando, indignado:
Corrija o pronome, miserável! Corrija o pronome!
E, entrando no gabinete, começou, cantarolando, a manusear os seus clássicos...


(Humberto de Campos)


domingo, 19 de agosto de 2012

Mais de 4 mil faltam à prova da PM


Mais de 4 mil faltam à prova da PM

Domingo, 19/08/2012, 18:05:40 - Atualizado em 19/08/2012, 18:06:43

A primeira etapa do concurso público da Polícia Militar do Pará (PM), realizada neste domingo(19), registrou 4.393 faltosos, segundo nota da assessoria de comunicação da UEPA, Universidade do Estado do Pará, instituição responsável pelo certame.
No total, foram 49.498 candidatos inscritos que tiveram que responder a 60 questões objetivas, valendo um ponto cada uma. Os que concorrem a uma vaga no Curso de Formação de Oficiais (CFO) tiveram ainda que redigir uma redação. O boletim de questões e gabarito preliminar já estão disponíveis no site da Uepa - www.uepa.br.
As provas foram aplicadas nos campi da instituição e em escolas públicas de Belém, Santarém, Marabá e Altamira.
A seleção oferece 2.180 vagas dividas entre os Curso de Formação de Soldados (CFSD), Curso de Formação de Oficiais (CFO) e Curso de Adaptação de Oficiais (CADO), com salários que variam de R$ 622 a R$ 4.083,69.Os candidatos tiveram quatro horas para responder a 60 questões objetivas, valendo um ponto cada uma.
Para os candidatos do CFSD, a prova foi referente às disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, História e Geografia. Aos que concorrem pelo CADO, a prova apresentou conteúdos de Língua Portuguesa, Noções de Informática, Legislação da Polícia Militar, além dos conteúdos específicos.
Já para os candidatos do CFO, a primeira etapa da seleção foi acrescida de Redação, valendo 20 pontos, perfazendo um total de 80 pontos nesta etapa. Em qualquer uma das seleções, para ser aprovado na prova objetiva, o candidato deverá acertar no mínimo 50% da prova.
O concurso público para provimento de vagas para a Polícia Militar segue com exames Antropométrico e Médico, Físico e Psicotécnico.
A relação dos classificados e aprovados para as etapas seguintes será divulgado no site da Uepa (www.uepa.br), no Diário Oficial do Estado (DOE), no quadro de avisos do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar. Para mais informações em relação aos editais, o candidato deve acessar a página de acompanhamento do concurso no site http://paginas.uepa.br/concursos/.


(DOL com informações da assessoria)


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Quando crescer, vou ser desempregado


Quando crescer, vou ser desempregado



Realizado neste mês num parque de diversões em São Paulo, um levantamento do Datafolha sobre os receios de crianças de 12 a 14 anos, a imensa maioria delas de classe média para cima, dá uma indicação do nível de "adultização" da infância.
Na lista de temores infantis, segundo a pesquisa, aparecem, entre os principais destaques, a violência urbana e o desemprego. Tirando os itens "assombração" e "terror das provas escolares", as crianças têm os mesmos medos - e quase em igual proporção - dos adultos.
A "adultização" da infância é, de um lado, uma consequência do bombardeio dos dados da mídia na era do tempo real e, de outro, um efeito da claustrofobia provocada pelo cerco do desemprego e da violência.
Havia um tempo em que se repetia a pergunta: "O que você vai ser quando crescer?" e quase todas as crianças demonstravam a certeza de que fariam alguma coisa. Não se diziam coisas do tipo "talvez eu seja um desempregado".
Na pesquisa do parque de diversões, 74% disseram ter medo de, no futuro, não conseguir trabalho. Para uma criança, imaginar-se sem ocupação depois de terminada a escola, temer pelo emprego dos pais e sentir-se cercada por delinquentes representa uma brutal taxa de ansiedade, que, muitas vezes, acaba no consultório psicológico.

PS - Para ter uma ideia do tamanho da ansiedade infantil: 91% das crianças daquela amostragem têm medo de serem sequestradas.


GILBERTO DIMENSTEIN


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Autopsicografia


AUTOPSICOGRAFIA



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa