BOAS VINDAS

Seja bem-vindo/a ao meu blog. Leia, pesquise, copie, aprenda, divirta-se; fique à vontade e tire proveito de sua estada aqui.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Decadência e esplendor da espécie



Decadência e esplendor da espécie




      Não sei o que terá acontecido com a espécie humana.
      Esta ausência de pelos... Para os outros mamíferos a nossa nudez pode parecer repugnante como, para nós, a nudez dos vermes.
      E, depois, a nossa verticalidade é antinatural. Estas mãos pendendo, inúteis, são ridículas como as dos cangurus sentados.
      Se fôssemos veludos e quadrúpedes, ganharíamos muito em beleza e, sem a atual tendência à adiposidade, poderíamos ser quase tão belos como cavalos.
      Felizmente, inventou-se a tempo o vestuário, que, pela variedade e beleza (a par de sua utilidade em vista do fatal desabrigo em que ficamos) redime um pouco esta degenerescência.
      E acontece que inventamos também o mobiliário, os utensílios: no caso vigente, esta cadeira em que escrevo sentado a esta mesa, à luz artificial desta lâmpada.
      E ainda este ato de escrever, isto é, de expressar-me por meio de sinais gráficos, é mais uma prova da nossa artificialidade.
      Mas quem foi que disse que eu estou amesquinhando a espécie? Quero apenas significar que, em face das suas miseráveis contingências, o homem criou, além do mundo natural, um mundo artificial, um mundo todo seu, uma segunda natureza, enfim.
      O homem, esse mascarado...



QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1973. p. 51.



Nenhum comentário:

Postar um comentário