O MUNDO
A
primeira vez que ouvi falar do mundo, o mundo para mim não tinha nenhum
sentido, ainda; de modo que não me interessavam nem o seu começo, nem o seu
fim.
Lembro-me,
porém, vagamente, de umas mulheres nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e
aludiam a um cometa que andava pelo céu, responsável pelo acontecimento que
elas tanto temiam.
Nada
disso se entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas; nós,
crianças, existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores
do tapete.
Mas,
uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada,
levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que
até então não me interessara nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos,
pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima
dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro de
sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há
lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me
causara medo nenhum.
Ora,
o cometa desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se
acabou, talvez tenha ficado um pouco triste – mas que importância tem a
tristeza das crianças?
Passou-se
muito tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo.
Não duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois
em redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem
se vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.
(A.
D.)
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