Ao mestre,
com carinho
Professores transmitem; ensinar,
mesmo, quem ensinam são os mestres.
Quem me disse assim foi um hoje
amigo que outrora tive como professor – e que logo descobriria tratar-se de
genuíno mestre.
Costuma referir que seus mestres
foram Borges, García Márquez, Rulfo, Francis Bacon (o pintor), entre outros.
Todos esses, teve a sorte de ter podido conhecer pessoalmente, muito embora o
fino de seus ensinamentos tenha-lhe alcançado mesmo é através das obras de cada
um – assim ao menos o creio.
Que dependamos dos mestres para
aprender não torna porém menos importantes os
professores. Recentissimamente, desde que me atrevi a empregar-me como um,
tenho experimentado (por ora com mais gosto do que desenvoltura, admito) essa
nobre (essa ingrata) tarefa. Pode-se até vislumbrar quão importante ela seja,
mas sustento que só se compreende o tamanho da responsabilidade no instante em
que se pisa numa sala de aula pela primeira vez endossando o jaleco
(imaginário, que seja, mas não menos jaleco).
Aliás, por falar em jaleco – não
estou de brincadeira – um professor que sinceramente admiro é o Professor
Raimundo, da “Escolinha”. Entre o bigodão sisudo e o cenho sempre franzido, sob
o capacete alourado da peruca partida no meio, Chico Anysio pôs um olhar
austero que, junto com o rouco grave da voz, redundam num dos personagens mais
respeitáveis da cultura nacional mais recente.
Pois quem, senão Raimundo Nonato,
para lograr conservar os sempre olhares de admiração e reverência de tantos e
tão diversos tipos humanos como os daquela sala de aula? Quem, senão Raimundo
Nonato, para manter-se firme na tarefa inglória de trabalhar formando pessoas,
mesmo que o salário seja ó!?
Confidenciei outro dia a meus
amigos que não perco as reprises da “Escolinha” na televisão. Divirto-me
imenso, até hoje, com o professor Raimundo Nonato. O mesmo tanto que aprendo,
até hoje, com a obra do mestre Chico Anysio.
Aprendo que, da vida, o senso de
humor é o sal, Chico. O purgatório lhe festeja.
Ricardo Sangiovanni escreve aos domingos
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