Literatura
na escola
Levantamento
desta Folha junto a dez escolas de 5ª a 8ª séries das redes pública e
privada de São Paulo aponta para um quadro preocupante relativo à prática da
leitura na vida escolar dos jovens entre 11 e 14 anos. A amostragem é restrita,
mas significativa: nessa faixa etária, os adolescentes já estariam mais
aptos a entrar em contato com textos literários
e capazes de formular suas primeiras reflexões sobre a condição humana.
Constata-se,
porém, que aumentam as dificuldades dos alunos para estudar literatura. Autores
dos séculos passados vão se tornando incompreensíveis e mesmo a leitura
dos contemporâneos já está longe de ser fácil para muitos jovens.
Ao menos
cinco fatores contribuem para o desprestígio da literatura. Os problemas de
infraestrutura nas escolas são frequentes. Os educadores remam contra a maré
das bibliotecas mal-equipadas e da ausência de orientadores. O despreparo de professores
é outro grande obstáculo. Os mais jovens já foram formulados num contexto de
desvalorização das letras e das artes em geral.
Também em
defesa do aluno, é preciso lembrar que ainda vigora entre muitos professores o
preconceito de que boa literatura é somente a dos antigos. Cria-se assim um divórcio
entre um repertório cultural que se deseja oferecer aos alunos e as necessidades
específicas do universo adolescente. Ademais, existe hoje uma “concorrência
desleal” entre livros e outros meios de comunicação e entretenimento mais
dinâmicos e atraentes, sobretudo a TV, que ocupam boa parte de um tempo que
poderia ser dedicado à leitura.
O grande
desafio consiste, pois, em respeitar as demandas dos jovens, sem contudo a
escola abrir mão de seu papel fundamental de oferecer outras e mais
consistentes alternativas para o desenvolvimento do estudante. Ser complacente com
todas as demandas externas à escola a levaria, no limite, a abdicar de seu
papel formador, perspectiva obviamente indesejável. Dela não se espera
que cruze os braços frente à inapetência intelectual dos alunos.
Folha de São Paulo
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