Há salvação para o ensino público
O
resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), disponível desde ontem na
página do Ministério da Educação na internet, evidencia o grau de degradação a
que chegou a educação pública no país. Das mil escolas com piores notas nas
provas do ano passado, 965 são estaduais. Por outro lado, entre as mil melhores,
figuram apenas 36 instituições estaduais de ensino. Forçoso lembrar que 85% dos
estudantes de nível médio estão matriculados em colégios estaduais. Portanto,
de posse desses números tão pífios quanto chocantes, os governantes
deveriam agir sem
demora, concedendo total prioridade à educação, a fim de evitar que mais uma
geração de brasileiros se perca nos limites da iliteracia.
Embora
tenha conseguido vencer o desafio da universalização no acesso ao ensino
fundamental, no fim dos anos 90, o Brasil continua atrasado em relação à qualidade
oferecida pela rede pública no ensino médio. Já se tornou tristemente comum
encontrar, dentro de classe, adolescentes incapazes de ler e entender textos mais
complexos ou mesmo fazer as quatro operações aritméticas. Num mundo cada vez
mais marcado pelo avanço do conhecimento e pela inovação tecnológica, o Brasil
segue na contramão, embora tenha bons exemplos a mirar.
Não
se trata de copiar a fórmula da rede particular de ensino (que, aliás, domina a
lista do Enem, com 905 entre os mil estabelecimentos com notas mais altas). Há
boas escolas públicas no nível fundamental, conforme revelou o estudo 'Aprova
Brasil – O direito de aprender'. [...]
De
acordo com o estudo, os projetos pedagógicos com melhores resultados são
exatamente os que apelam para a simplicidade e a criatividade. Ou seja, a chave
do sucesso não está necessariamente relacionada à qualidade da infraestrutura
nem à disponibilidade de recursos. Algumas escolas montaram bem-sucedidos
programas de leituras sem terem biblioteca. [...] Mais importante ainda: embora
os colégios analisados estivessem situados em diferentes contextos
socioeconômicos, tinham algo em comum: professores empenhados e capacitados,
estabilidade do corpo de funcionários administrativos e forte apoio dos pais,
principalmente na fiscalização da frequência, no controle das lições de casa e
até na confecção de lanches.
Portanto,
é possível elevar a qualidade da educação pública a partir de medidas simples e
baratas – bastando, para isso, vontade política e orientação. Mas não há mais
tempo a perder.
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