Que
coisa!
Coisa é palavra-ônibus, de omnibus,
em latim, democracia total: cabe tudo.
Na palavra coisa viajam todos os
significados.
Coisa é tudo: é mistério e objeto, é
invisível e visível, é lugar-comum, e devora.
As coisas nadam, crescem, vibram, voam,
flutuam.
Alguma coisa acontece no meu coração.
Coisa é música aos ouvidos. Coisa é
notícia. Coisa é causa de tudo e de nada. O Coisa-ruim é coisa do outro mundo.
E deste também. Mas isso é coisa feita. Coisas do arco-da-velha. Coisa e tal e
tal e coisa. São tantas coisinhas miúdas. Coisíssima nenhuma. A coisa em si.
Cada coisa em seu lugar. Não me venha com coisas. A coisa foi por água abaixo.
Coisa de louco!
Muitas vezes, ao falar, usamos a
palavra coisa como uma coisa que substitui todas as palavras. E o pior é que
substitui mesmo. E pior ainda: todo mundo entende. Na ausência da palavra
exata, que ilumina como um holofote a coisa a ser nomeada, usamos qualquer
coisa no lugar dos outros nomes, como uma vela acesa no meio do blecaute.
A iluminação é precária, mas, nas
trevas da Idade Mídia (a coisa tá preta), é melhor uma coisa do que nada. E,
tipo assim, a coisa se metamorfoseia em todas as coisas, e nossa preguiça
verbal se sente recompensada. Há sempre uma coisa à mão para nos salvar. Coisa
serve para qualquer coisa.
Nada contra as coisas, ferozes amigas,
mas é que as próprias coisas têm suas leis, e não gostam de que abusemos delas.
A coisa funciona assim: a coisa
aparece diante de nós, anônima, feia, bela, e não sabemos (ou não queremos
buscar) o nome da coisa. E aí, vem à nossa mente: que coisa!
E a coisa se fez coisa.
O milagre da coisa. A multiplicação
das coisas. O sermão da coisa. A coisa que sempre volta. Um provérbio francês:
“Quanto mais as coisas mudam mais permanecem as mesmas”.
O paciente diz ao médico: ─ Doutor, não sei, mas estou sentindo uma coisa...
Coisa do destino.
Porque uma coisa é certa: uma coisa é
uma coisa e outra coisa é outra coisa. Até que se prove o contrário.
Mas esse papo meu tá qualquer coisa,
de modo que, se for impossível dizer coisa com coisa, não pense duas vezes:
vote na coisa.
Seja com a coisa uma só coisa.
Coisifique-se!
De repente mil coisas!
cosmo.com.br/materia.asp?co=14&rv-Colunistas
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