Histórias extraterrestres
Quando a mulher, muito impressionada, veio lhe falar
sobre o óvni avistado no Mato Grosso do Sul, ele mal pôde conter a satisfação:
pressentiu que ali estava a grande desculpa de que precisava para justificar
suas escapadas noturnas.
Não tardou a usá-la. Dias depois conheceu
uma loira espetacular, uma grande mulher. Saiu da casa dela às três da manhã, sem
qualquer preocupação. Para a mulher, que, naturalmente, o aguardava furiosa,
contou a história clássica: estava dirigindo o carro por uma estrada deserta
quando, de súbito, avistou luzes ofuscantes e, em meio a um ruído ensurdecedor,
um óvni, um disco voador, pousou no campo ao lado da estrada.
Dali haviam saído três homenzinhos verdes
com antenas, dizendo, numa voz metálica, leve-nos a seu chefe. Como não sabia
exatamente de quem falavam ─ tanta gente mandando no país ─, os homenzinhos
retiveram-no por mais de cinco horas, perguntando coisas sobre campos
petrolíferos, possibilidade de remessa de lucros a outros planetas, CPIs
várias. Daí o atraso.
A mulher não apenas acreditou como até teve
pena dele: coitadinho, você deve ter passado um mau pedaço. E ele foi dormir
felicitando-se por sua imaginação criativa.
Na semana seguinte, de novo encontrou a
loira e de novo voltou tarde, dessa vez às quatro. De novo contou a história, acrescentando
que era o mesmo disco voador e que os homenzinhos haviam afirmado que daí em
diante voltariam periodicamente para completar a coleta de dados.
─ Não conte a ninguém sobre isso ─ concluiu ele. ─ Caso contrário,
minha vida correrá perigo.
A mulher, cada vez mais impressionada,
prometeu que nada diria, nem mesmo às melhores amigas.
Passados uns dias, sentiu saudades da loira
e resolveu visitá-la na casa, que ficava num bairro distante. Entrou no carro e
foi até lá. Já estava chegando quando avistou luzes ofuscantes. Em meio a um
ruído ensurdecedor e a uma espessa fumaça, avistou um óvni que, do pátio da
casa, elevava-se no ar. Na janela do disco voador, mirando-o sorridente, estava
a bela loira, abraçada a três homenzinhos verdes com antenas. Um segundo depois
a nave desapareceu, perdendo-se no espaço infinito.
(SCLIAR, Moacyr. O imaginário
cotidiano. São Paulo: Global, 2001.)
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