Liberdade
“A liberdade tem muitos apaniguados. Os liberais consideram-se seus defensores acreditados. Mas os marxistas, contra quem combatem, pretendem preparar, em oposição àqueles, o verdadeiro ‘reino da liberdade’ para lá das suas caricaturas. Existencialistas e cristãos colocam-na também no centro das suas perspectivas, embora a sua concepção não coincida, nem coincida com nenhuma das outras duas. Por que tanta confusão? Por que cada vez que a isolamos da estrutura total da pessoa, exilamos a liberdade para alguma aberração?
A liberdade não é uma coisa. ― Se não existe liberdade, que somos nós? Joguetes em pleno universo. É essa a razão de nossas angústias. Para as apaziguar queríamos surpreender a liberdade em flagrante delito, tocá-la como se toca num objeto, pelo menos prová-la como se prova um teorema; assentar definitivamente em que há liberdade no mundo. Mas em vão. A liberdade é afirmação da pessoa, vive-se, não se vê. ‘Não há’ no mundo objetivo senão coisas dadas e situações que se cumprem. Por isso, porque não podemos instalar nele a liberdade, procuramo-la nas suas formas negativas; uma ausência de causa, uma lacuna no determinismo.Mas que posso eu fazer com lacunas? “
(E. Mounier)
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