As causas da violência urbana
Se a violência é
urbana, pode-se concluir que uma de suas causas é o próprio espaço urbano? Os
especialistas na questão afirmam que sim: nas periferias das cidades, sejam
grandes, médias ou pequenas, nas quais a presença do Poder Público é fraca, o
crime consegue instalar-se mais facilmente. São os chamados espaços segregados,
áreas urbanas em que a infraestrutura urbana de equipamentos e serviços
(saneamento básico, sistema viário, energia elétrica e iluminação pública, transporte,
lazer, equipamentos culturais, segurança pública e acesso à justiça) é precária
ou insuficiente, e há baixa oferta de postos de trabalho.
Esse e os demais
fatores apontados pelos especialistas não são exclusivos do Brasil, mas ocorrem
em toda a América Latina, em intensidades diferentes. Não é a pobreza que causa
a violência. Se assim fosse, áreas extremamente pobres do Nordeste não
apresentariam, como apresentam, índices de violência muito menores do que
aqueles verificados em áreas como São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes
cidades. E o país estaria completamente desestruturado, caso toda a população
de baixa renda ou que está abaixo da linha de pobreza começasse a cometer
crimes.
Outros dois fatores
para o crescimento do crime são a impessoalidade das relações nas grandes
metrópoles e a desestruturação familiar. Esta última é causa e também efeito. É
causa porque sem laços familiares fortes, a probabilidade de uma criança vir a
cometer um crime na adolescência é maior. Mas a
desestruturação de sua família pode ter
sido iniciada pelo assassinato do pai ou da mãe, ou de ambos.
No entanto, alguns
especialistas afirmam que essa causa deve ser vista com cautela. Desestrutura
familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente, ausência de pai ou de
mãe; ou modelo familiar alternativo. A desestrutura tem a ver com as condições
mínimas de afeto e convivência dentro da família, o
que pode ocorrer em qualquer modelo
familiar.
Também não é o
desemprego. Mas o desemprego de ingresso – quando o jovem procura o primeiro
emprego, objetivando sua inserção no mercado formal de trabalho, e não obtém
sucesso – tem relação direta com o aumento da violência, porque torna o jovem
mais vulnerável ao ingresso na criminalidade. Na verdade, o desemprego, ou o
subemprego, mexe com a autoestima do jovem e o faz pensar em outras formas de
conseguir espaço na sociedade, de ser, enfim, reconhecido.
Sem conseguir
entrar no mercado de trabalho, recebendo um estímulo forte para o consumo, sem
modelos próximos que se contraponham ao que o crime organizado oferece (o
apoio, o sentimento de pertencer a um grupo, o poder que uma arma representa, o
prestígio) um indivíduo em formação torna-se mais vulnerável.
O crescimento do
tráfico de drogas, por si só, é também fator relevante no aumento de crimes
violentos. As taxas de homicídio, por exemplo, são elevadas pelos “acertos de
conta”, chacinas e outras disputas entre traficantes rivais.
E, ainda, outro
fator que infla o número de homicídios no Brasil é a disseminação das armas de
fogo, principalmente das armas leves. Discussões banais, como brigas
familiares, de bar e de trânsito, terminam em assassinato porque há uma arma de
fogo envolvida.
(Luís Antonio
Francisco de Souza – sociólogo)
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