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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Política e politicalha


Política e politicalha



A política afina o espírito humano, educa os povos no conhe­cimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a cora­gem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o mereci­mento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politica­ria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repul­sam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios defini­dos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politica­lha é a indústria de explorar o beneficio de interesses pessoais. Cons­titui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenena­mento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.

(Rui Barbosa)

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