“A banda”
Estava à-toa na vida,
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor,
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
O homem sério que contava dinheiro parou;
O faroleiro que contava vantagem parou;
A namorada que contava as estrelas parou
Pra ver, ouvir e dar passagem.
A moça triste que vivia calada sorriu;
A rosa triste que vivia fechada se abriu;
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
Estava à-toa na vida,
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor,
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou.
A moça feia debruçou na janela,
Pensando que a banda tocava pra ela.
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu;
A lua cheia que vivia escondida surgiu.
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.
Mas, para meu desencanto,
O que era doce acabou,
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou.
E cada qual no seu canto,
Em cada canto uma dor,
Depois da banda passou
Cantando coisas de amor.
(Chico Buarque de Holanda)
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