As crianças e a violência
dramática
Matei várias crianças
quando era menino. A maioria com tiros de espoleta, brincadeiras de mocinho e
bandido, comprovadamente inocentes. Já naquele tempo, o modelo eram os filmes
americanos que nos ensinaram uma infinidade de outras coisas − de beijar e fumar a
empunhar uma espada. Como eram outros tempos, com menor, bem menor, quase nenhuma
tensão urbana e motivos de sobra para uma despreocupação em relação ao futuro,
inclusive o profissional, só excepcionalmente as crianças e os adolescentes das
décadas de 40 e 50 se deixavam influenciar por tipos e atitudes mais
condenáveis veiculados pelo cinema. Mas até as brigas entre gangues juvenis,
supostamente macaqueadas da tela, pareciam travessuras inconsequentes se
comparadas aos confrontos, muito mais violentos e frequentes, entre os transviados
de hoje.
Mudaram as crianças e
os adolescentes ou mudou o cinema? Na verdade, mudou tudo. Em casa, na rua e
nas telas (no plural, porque agora, além do cinema, temos a televisão e os
computadores). As famílias perderam a coesão e o poder de aglutinação de
antigamente, as cidades estão cada vez mais selvagens e desagregadoras, a
educação caiu a níveis subterrâneos, as perspectivas de trabalho são quase
nulas para determinadas faixas da população, e, se a esse conluio de fatores
negativos acrescentarmos o consumo de drogas, o quadro estará quase completo.
Que ninguém se iluda: o
cinema, a televisão, a mídia e os videogames têm sua parcela de culpa na
crescente brutalização da juventude. Qual, exatamente, ninguém sabe ainda.
Sabe-se, porém, que ao atingir dezoito anos, um adolescente americano terá
visto quarenta mil cenas de assassinatos nas telas de cinema e da TV. Leonard
Eron, psicólogo da Universidade de Michigan, que há quatro décadas investiga os
efeitos da violência dramatizada no cotidiano de crianças e adolescentes, acredita
que a exposição permanente a imagens de truculência é a causa de 10% dos crimes
cometidos na América. "As crianças aprendem observando", diz Eron.
"Se o que observam é a violência, é isso que aprenderão."
(Sergio
Augusto, Bravo! no 21, junho/99, pp. 19-20)
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