Essa
tal felicidade
Todos queremos ser felizes. Mesmo sem saber exatamente o que é
essa felicidade, onde ela mora ou como se encontra, traçamos planos, fazemos
escolhas, listamos desejos e alimentamos esperanças pela expectativa de
alcançá-la. Em seu nome, comemos chocolate, estudamos para a prova, damos
festas, casamos ou separamos, compramos carro, dançamos valsa, formamos turmas,
entramos na dieta, brigamos, perdoamos, fazemos promessas – nós vivemos.
Às vezes, agimos pensando na felicidade como uma recompensa
futura pelo esforço. Noutras, a encaramos como o bilhete dourado na caixa de bombons.
Não raro, pensamos que ela é um direito. Ou um dever a ser cumprido – e, assim
como em outras obrigações cotidianas, como fazer o jantar, se a gente falha em
executar a meta, tendemos a procurar soluções prontas, como lasanha congelada
ou antidepressivos.
Por isso é tão difícil definir (e achar) a tal felicidade. Nós a
confundimos com o afeto (se encontrarmos o amor, ela virá), com a sorte (com
esperança, ela vai chegar), com o alívio (se resolvermos os problemas, como o
excesso de peso, então a teremos). Nós a confundimos com a conquista: se
realizarmos tudo o que queremos e se espera de nós... seremos felizes, não?
Não. São pensamentos como esses que transformam a felicidade na
cenoura eternamente pendurada à nossa frente – próxima, mas inalcançável. Estabelecer
tantas condições para ser feliz faz a gente superestimar o poder que coisas nem
tão importantes assim têm sobre nosso bem. Enganamo-nos com a promessa de que
há uma fórmula a seguir e jogamos a responsabilidade pela satisfação em lugares
fora de nós (e além do nosso controle), como ganhar aumento ou ser
correspondido na paixão. E ao invés de responder aos nossos anseios, essas ilusões
podem criar um vazio ainda maior.
Podemos não saber explicar o que é felicidade – até porque é uma
experiência única para cada pessoa. Mas a ciência, a filosofia e as histórias
de quem se assume feliz dão pistas do que ela não é. (...)
Comparando centenas de pesquisas, [o psicólogo americano] Martin
Seligman e outros pesquisadores perceberam: a felicidade está naquilo que construímos
de mais profundo – nossas experiências sociais. A vida bem vivida, sugere o
psicólogo, é aquela que se equilibra sobre três pilares: os relacionamentos que
mantemos, o engajamento que colocamos nas coisas e o sentido que damos à nossa
existência. É isso, afinal, que as pessoas felizes têm em comum.
(...)
A verdade de cada um
Hoje, Claudia Dias Batista de Souza, 63 anos, não quer levar
nada da vida. Mas houve um tempo em que quis o mesmo que todo mundo. “Achava
que ser feliz era ter um bom marido, um bom emprego, um bom carro, sucesso”,
conta. Claudia cresceu em um bairro nobre de São Paulo, casou aos 14 anos, teve
a única filha aos 17, se separou, estudou Direito, virou jornalista. Aos 24
anos, mudou para a Inglaterra. De lá, foi para os Estados Unidos, onde conheceu
o segundo marido. E aos 36 anos descobriu que não queria mais nada daquilo.
Claudia virou budista. Hoje é conhecida como monja Coen – palavra japonesa que significa
“só e completa”.
Foi porque estava em busca de algo que a ajudasse a se conhecer
melhor que Claudia procurou o budismo. (...)
E descobriu onde estava sua felicidade. “Eu era bravinha,
exigente com os outros e comigo. No budismo, aprendi que o caminho da
iluminação é conhecer a si mesmo. Isso me trouxe plenitude”, conta. “Vi que sou
um ser integrado ao mundo e, para ficar bem, preciso fazer o bem. A recompensa
é incrível”.
WEINGRILL,
Nina; DE LUCCA, Roberta; FARIA, Roberta. Sorria. 09 jan. 2010
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