Brasileiro: Cidadão?
A
igualdade na sociedade brasileira tem sido uma verdadeira obsessão para os
atuais cientistas da antropologia social brasileira.
A igualdade, como valor
político ou como ideal social nos leva à discussão não só da democracia como
estilo de vida ou cultura, mas, sobretudo da cultura da democracia.
Quem
é o cidadão em nosso país? Confesso que esta indagação me traz um conjunto de
imagens perturbadoras.
Ao
pensar em cidadão e em cidadania não me vem à mente a imagem de uma pessoa que
segue tranquilamente as regras da lei. Penso em uma letra antiga de uma música
conhecida que fala do Zé da Silva, que não sabe a cor do dinheiro e do
conforto. Penso também no papel social de João Ninguém que sou obrigado a
desempenhar quando me vejo obrigado a resolver um problema num banco, na
telefônica ou em qualquer outro órgão público.
De
fato, de tanto ser e ver esse Zé da Silva, posso compor seu rosto e seu jeito.
Ele provavelmente é de cor, magro, mal nutrido, veste-se mal, leva insegurança
na voz: fala errado, fala de modo balbuciante, revelando falta de informação e
leitura. Jamais reclama. Quando o faz é através de um quebra-quebra, reagindo
exageradamente, de modo violento.
Vejo
o rosto sofrido de milhões que vagam pelas filas de triagem dos hospitais
públicos, querendo receber uma palavra de reconhecimento social e político. Uma
palavra que diga que eles são parte de alguma coisa e que sua existência (sem o
carro oficial), sem dinheiro no banco, sem diploma universitário) tem algum
valor .
Roberto da Matta (1992)
com
cortes e adaptações.